Editorial

Não deixaremos de informar

Nada pode ser pior para qualquer sociedade, em qualquer tempo, do que o silenciamento, a tentativa de jogar para a escuridão aquilo que é preciso estar sob a luz dos holofotes. Embora abominável, não há como fechar os olhos para a existência e persistência desta prática - em maior ou menor grau - partindo de alguns setores. O Poder Público, em suas diferentes esferas, costuma ser o principal usuário de métodos visando dificultar ou bloquear o acesso a determinadas informações. Nem todos os governos assim agem, é claro. Mas seria ingenuidade dizer que há boa vontade e disposição generalizadas nos órgãos públicos em abrir seus dados e responder a tudo aquilo que a sociedade quer ou precisa saber. Nesse sentido, a Lei de Acesso à Informação é uma conquista de todos.

Contudo, tão ruim quanto este tipo de emudecimento originado das estruturas de poder é aquele que se dissemina dentro da própria sociedade civil, do cidadão comum. E este, lamentavelmente, é um problema bastante agravado ao longo dos últimos anos no Brasil. Entenda-se este período como bem mais do que os quatro recentes anos, é algo que se acentua há pelo menos uma década, tendo sobretudo a imprensa como inimiga preferencial. São os trabalhadores que atuam com jornalismo os alvos da virulência dos ataques de quem não respeita o direito à informação, à notícia apurada com profissionalismo e baseada não em preferências pessoais, e sim no interesse coletivo.

Um destes episódios se deu na última segunda-feira com a equipe do Diário Popular. Ao cumprirem seus papeis de cobrir os protestos que trancavam trecho da BR-392, em Pelotas, repórter e fotojornalista foram insultados e ameaçados por manifestantes, sendo impedidos de permanecer no local. Um dos responsáveis pelos xingamentos chegou a seguir, com dedo em riste, a jornalista. De forma intimidatória, disparou ofensas a ela e ao colega que tentavam relatar a milhares de leitores da Zona Sul do Estado o que ocorria. Para além de narrar o lamentável fato de um grupo de radicais estar bloqueando uma rodovia por não aceitar o resultado de uma eleição, os profissionais prestavam um serviço ao manter a comunidade informada sobre os transtornos em uma importante rodovia que liga as duas principais cidades da região e serve como caminho a veículos de carga de todo o Rio Grande do Sul que precisam acessar o Porto de Rio Grande.

Fosse apenas episódio isolado, já seria preocupante. Contudo, é apenas mais um dentre muitos casos em que a imprensa é constrangida pelo simples fato de noticiar. No entanto, todo jornalista é consciente de que, maior que qualquer insinuação contra seu trabalho, é o risco que a sociedade corre quando a imprensa deixa de atuar. E é por isso que ela não deixa de informar. Como o DP fez na segunda-feira, como faz hoje e seguirá fazendo.

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